Engraçado, quer dizer..não tem nada de engraçado. Não vou
contar uma piada aqui. Aliás, queria fazer você chorar. Porém meu drama cabe em
uma lata de ervilhas. Sei bem onde está o abridor de latas, só não quero
usá-lo. Temo usá-lo. Perai, que eu to falando? Bem, eu só queria aproveitar
esse momento de efêmera solidão e escrever algumas palavras. Elas me consolam e
me abraçam todas as vezes que preciso de alguma ajuda que nunca aparece. Só que
elas nunca me representam. Um texto nunca fala sobre mim. Incrivel como mesmo
depois de escrever por horas, nada, absolutamente nada do que sai parece
realmente ter saído de mim. Como um filho bastardo. De quem será que puxou
esses olhos puxados? De mim que não foi. Entende? Sei que estou errada, falta
pouco pra acertar. A atitude está ali, pronta pra ser tomada. Não quero
alcançá-la. Não quero olhar fundo nos seus olhos, me dizendo: mude. Te
avisei. Bom, talvez nada do que eu fale
aqui agora faça sentido pra você. O bom de ser eu é isso, eu não faço sentido.
Não tenho a pretensão de fazê-lo. Eu apenas quero aproveitar esse tempo. Ah, o
tempo...(pausa profunda aqui por favor). Essa impalpável parâmetro da vida que
me cerca, prende, solta, afrouxa, me sufoca, corro atrás, me escapa, me
envolve, que sinto saudades e nunca o vi. O tempo sabe ser meu inimigo e amigo.
Sabe ser sabido e me passar a perna. Sabe olhar na minha alma e dizer “você não
sabe de nada”. Sabe me fazer voar e achar que tenho todo tempo do mundo. Sei lá.
Parei pra refletir sobre o tempo essa hora da noite. Tempo que busco que almejo
e não sei se o aproveito muito bem. Mas sei que o ganho estando aqui. Rascunhando
algumas palavras soltas para que permaneçam na eternidade. Apesar de eternidade
nada mais ser do que uma hipérbole das mais absurdas do mundo. Queria esquecer
por um momento tudo que eu tenho que fazer amanhã. Eu não quero saber desse
negocio de “amanhã será um novo dia”. Não quero nem respirar fundo pra não perder
o ar deste presente. Esse presente agora que me enche de vida e que passa a
cada segundo. Tão incrível como sou diferente. Eu tinha um plano. Eu juro que
eu tinha. Agora já não tenho mais. Talvez seja a crise dos que se formam na
faculdade, mas já tenho esse sentimento há algum tempo. Ando vivendo o presente
demais. Mas eu quero viver. “Ah eu quero viver” como diria Castro Alves. Essa
coisa que eu passo agora. Essa coisa que respiro e vivo. O agora. Na verdade
queria escrever um texto grande, só pra ver se no meio dessa bagunça sai um
pouco do que eu sou. Sei que ninguém lê muito isso daqui, quiça um texto com
pouco mais de cinco linhas. Acho que ninguém tem a curiosidade de saber
exatamente quem eu sou. Aliás, nem eu mesma sei direito. Só queria que pra
alguém que tivesse interesse, ao menos se desse o trabalho de ler e prestar
atenção. E assim aprender a fazer com tudo que está o seu redor. Pra começar a
me entender, primeiro tente observar o mundo. Eu quero aproveitar. Eu quero
fotografar com meus olhos cada momento. Eu paro e fotografo, com a câmera fotográfica
da memória. E como as memórias são importantes pra mim. Tanto que nem sei
falar. Me apego a lugares, a coisas, a espaços, muito mais que até mesmo
pessoas. Me apego a ruas e cheiros, a musicas e sensações. Coisas de Karine,
como diz minha mãe. Coisas de Karine.
Sabe o que é bem minha cara? Esquecer as coisas. Tá, agora
eu pareci contraditória. Como eu memorizo tudo e esqueço de tudo? Não dá pra
explicar, se eu soubesse nem tinha um blog pra ao menos tentar me entender. Uma
coisa que é minha cara é dar bolo também. Não que eu goste, mas essa coisa de
querer agradar tudo e a todos me faz nunca dizer não. Não não tem no meu
vocabulário. Aliás, ele só aparece (e como aparece) se for pra arriscar a fazer
algo no campo amoroso. Ai ele vem de cachoeira. “não vamos não” “acho que não é
uma boa” “não somos amigos?” Bom pra isso ai o não nunca falta. Começo a ficar
triste. Começo a adoecer, é só entrar nesse campo que começo a esmorecer. Bom,
esse texto começou nem sei qual era o propósito mesmo, sei que eu não queria
falar de mim. Mas como tudo acaba girando na minha cabeça em torno de mim,
mesmo que eu negue isso, acabou que virou sobre mim mesmo. Aliás, não tinha
como deixar de falar sobre mim. Nada é sobre os outros, nada. Freud talvez me
explicaria. Enquanto não conto com ele, basta a você leitor ( se é que você
existe) a ser meu psicanalista Sei que é um papel que ninguém deveria tomar (não
remunerado) mas infelizmente você teve a infelicidade de cair nessa página e ,
mais infelicidade ainda, neste texto. Sei que parece meio louco. Talvez não fez
sentido, mas você ajudou. Ah, se ajudou. Obrigada.